O PODER INTERFERE NA HEREDITARIEDADE?

No livro Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley ele fala sobre uma sociedade hipotética manipulada biologicamente. No que estou a divagar, não chega a tanto. Ouvi uma estória que ocorreu em um país distante, acho que próximo à “Rá-Tim-Bum”. A rainha deste lugar elaborou um projeto com duração de 400 anos e determinou a seus súditos que escrevessem uma carta por ano para ela, dentro de um tema dado a cada um. Os seus pagamentos seriam mediante os critérios de avaliação pessoais da rainha. Todos ficaram preocupados porque muitos não sabiam ir ao correio, outros não sabiam escrever, comprar selos e outras dificuldades mais. Porém a rainha lhes acalmou dizendo que não se preocupassem porque no primeiro pagamento ela levaria em conta todas estas dificuldades. O povo pôs-se a escrever e a driblar todas as dificuldades. Todos conseguiram escrever sua carta. Quando o mensageiro real voltou com o pagamento houve indignação geral. Alguns argumentaram que seu empenho pessoal foi muito grande e não havia ganhado o merecido. A rainha, sabendo da insatisfação, mandou o mensageiro levar uma nova forma de avaliação para a próxima carta que deveria ser entregue. Neste novo método de avaliação haveria um peso em ouro muito maior para quesitos abstratos, como beleza do papel, forma das letras, criatividade, e, alguns destes quesitos valendo até três vezes mais do que itens concretos como o conteúdo do tema por exemplo.

O tumulto se acalmou e todos se imbuíram de escrever a próxima carta. Aparentemente esse novo critério seria muito mais benevolente porque coisas como beleza, criatividade seriam avaliadas e todos sabiam o que eram essas coisas. Esqueceram de perguntar como se avalia a “Beleza”, e, o que é ser “Criativo”. Novamente veio o pagamento, e agora sim a indignação estava estampada na face do povo. Muitos colocaram estampas em suas cartas, pinturas, perfume, desenhos, adornos dos mais variados. Alguns até tentaram argumentar com a rainha, mas foi em vão, o critério de avaliação continuaria o mesmo e a avaliação seria pessoal. O povo embora indignado se preparasse para escrever uma nova carta, porque necessitava daquele parco pagamento. Neste momento uma junta de cientistas discutia se essa metodologia de avaliação pessoal da Rainha poderia interferir na hereditariedade dos habitantes do reino.

De inicio pensaram em descartar tal hipótese, porém, diante de fatos comprovados de que casais se formavam procurando unir gostos e padrões de beleza e criatividade de acordo com a paga das cartas, decidiram levar adiante o estudo. Abriu-se um estudo independente para avaliar até que ponto o poder e as convenções sociais interferem na hereditariedade de uma população.

Sabendo que novamente o povo não ficou satisfeito com a avaliação, a rainha veio a público e com a diplomacia que o cargo necessita, noticiou que a terceira carta receberia o pagamento máximo em moedas de ouro. Dez moedas de ouro para cada um dos escritores participantes. Não apenas isso, disse que a finalidade do projeto era de fazer com que o povo soubesse escrever, ou quem já soubesse que melhorasse sua escrita, desenvolvessem a criatividade, a imaginação, a beleza, estética e tudo enfim para o desenvolvimento de um reino melhor. Tudo certo?

Qual o que! O que se ouvia em todas as esquinas e botequins era de que a rainha não entendera que a reclamação geral girava em torno de que, critérios como beleza e criatividade não podiam ser avaliados corretamente, ou então, não existiam parâmetros para se basear e assim não havia como receber o pagamento máximo por merecimento, apenas por “lambuja”, como foi o pagamento da terceira carta. Não sei como acabou a estória desse povo, mas trazendo este conto para nossa sociedade podemos perceber que a hereditariedade é influenciada por padrões de comportamento e pelas leis de um país. O que se busca na união é a atração biológica, mas como somos racionais acabamos dando mais umas peneiradas e escolhendo, utilizando além deste, novos critérios e buscando filhos que se adéqüem com menos dificuldades a sociedade a nossa volta.

  Ao que tudo indica cabe ao poder ser uma ferramenta muito poderosa na seleção natural. A sociedade é uma construção do homem, realizada através das objetivações humanas, do trabalho, enfim, das ações humanas realizadas sobre a natureza no sentido de transformá-la para suprir necessidades básicas, materiais e espirituais. Interessante atentar para o fato que não existe realidade social que não tenha sido tocada pela "humanidade do homem". Essa sociedade, por sua vez, atua sobre o próprio homem, constituindo-o, modificando-o, transformando-o. Assim, o homem constrói e é construído, cria e é recriado no curso de relações sociais estabelecidas historicamente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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